Aproximação

Nesse processo de crescimento e descoberta de si, há um deslocamento que leva a referenciais e núcleos familiares completamente novos, perspectivas outras capazes de trazer novos conhecimentos e experiências, que inconscientemente são construídas no entorno de sua ancestralidade, que soa tão novo como de fato é, de forma a não fazer sentido por não ter repertório suficiente para entender com tão pouca idade.

A arte se torna como ponto de escape dos conflitos que sentia mas não compreendia, onde podia ser em plenitude, os ensaios eram onde podia viver intensamente aquilo que mais queria ser e era, artista.

A arte vivida em plenitude e extrema potência revelava intimamente quem era, de uma forma que não era n o r m a l, já era evidente, não estava dentro do que as pessoas esperavam, ser aceito e querido é sempre algo que almejamos quando se está num processo de construção de personalidade. Até que nasce uma persona que se fecha completamente, que ignora e silencia tudo que quer e deseja, que repensa e estuda gestos, como se fala e reage, como gosta e demonstra gostar, um ser n o r m a l que corresponde a expectativas, que deixa todos confortáveis já que todos os sinais que desviavam de uma conduta regular, foram minuciosamente retirados.

O plano é de abafar tudo que se tinha certeza que era, apenas por um período não muito longo, talvez alguns anos, porém não para sempre, até ser adulto, até ir embora, até ter minha própria casa, própria vida e enfim quando esse momento chegar, a caixa onde estava trancafiado seria aberta e o que estava lá dentro pode-se levantar e ser liberto.

Até que o momento de fato chega, a caixa é aberta mas já não há mais nada lá.